Causas interpessoais das disfunções sexuais

Em todas as culturas e em todas as fases de sua evolução, o ser humano tem sempre apresentado alguma forma de casamento e de organização familiar. 

Qualquer tipo de relacionamento social é mediado pela cultura, através dos quais, os indivíduos se organizam. No casamento isto também se dá através de padrões que norteiam e que diferem em cada sociedade, classe social, etc. A forma de compromisso comum a todos os povos constitui-se no casamento, compromisso assumido entre pessoas de sexos diferentes, regulado por leis, costumes e regras sociais. A forma básica ocorre entre um homem e uma mulher adultos.

Quando duas pessoas de sexos diferentes decidem constituir um casal suas relações estarão permeadas pelas expectativas socioculturais e pelas atribuições sociais designadas a cada um segundo o papel sociossexual de cada gênero.

Os problemas peculiares dos pares conjugais podem ser mais bem entendidos em termos de reciprocidade e interdependência, da respectiva adaptação aos novos papéis, da complementaridade do comportamento sexual, da reciprocidade do companheirismo emocional e social, da partilha de autoridade e da divisão de trabalho. Isto sem esquecer dos problemas que envolvem a responsabilidade parental.

Ao se verificar as etiologias das disfunções sexuais em casais revelou-se, que na maioria das vezes, o sistema sexual em que os pacientes tentam funcionar apresenta-se quase sempre muito destrutivo e incompatível. Os sintomas sexuais, como em qualquer caso de psicopatologias, têm relação direta com fatores interacionais entre o indivíduo e o seu ambiente. Num contexto de medo, rejeição, incompreensão, humilhação, exigências, controle e alienação entre os parceiros, o mais funcional será retrair-se ou ausentar-se a ter relação sexual prazerosa.

Algumas vezes, a situação é bem clara, os problemas surgem porque um dos parceiros rejeita completamente o outro. Quando a pessoa é aversiva a outra tanto física como emocionalmente e dificilmente será capaz de funcionar sexualmente, a menos que seja alienada e desenvolva defesas e insensibilidade. Em alguns casos, pode existir mesmo um clima de hostilidade e raiva entre os parceiros, ou por outro lado medo de rejeição e sensação de abandono que, dependendo da situação, podem ser agravados e perpetuados pelas diversas dificuldades de terem uma boa comunicação entre si.

Antigos padrões nas relações familiares e desentendimento no casamento compõem grande parte das raivas e medos nas relações conjugais. Em alguns casos, surgem expectativas de que antigos sonhos e faltas serão atendidas pelo cônjuge. Situações de transferências de figuras paternas antigas para o(a) parceiro(a), resultando em medo de abandono, dependência excessiva e exigências, que se não atendidas, transformam-se em hostilidade, ansiedade e insatisfação.

Ocorrem ainda situações pontuais que revelam a fragilidade da relação e o núcleo das disfunções: a falta de confiança no outro, a luta interna pelo poder dentro do relacionamento, decepções a partir do contrato nupcial assumido, sabotagens sexuais provenientes de situações narcísicas e/ou ambivalentes, e em cada situação o resultado é frustração e afastamento, inviabilizando ainda mais futuras tentativas de encontro.

Todos estes fatores podem ser agravados, especialmente, pelas dificuldades de comunicação do casal. Esta falha pode revelar o baixo nível de confiança e intimidade no casal, bem como falta de habilidades sociais no encontro interpessoal. Os próprios critérios de escolha do cônjuge podem apontar para a precariedade e distorções na formação do par, especialmente no caso de indivíduos com autoestima muito baixa. Ocorre geralmente nestes casos, abandono de cuidados básicos na escolha e formação de expectativas ilusórias em relação ao outro e à relação.

Uma pessoa cuja auto-estima seja reduzida nutre com relação a si mesma, fortes sentimentos de ansiedade e incerteza. Sua auto-estima baseia-se naquilo que acha que as pessoas pensam a seu respeito. Esta dependência estrangula sua autonomia e individualidade, originando manobras para causar boa impressão, ocultando seus reais sentimentos, atuando mais ao nível das defesas, impossibilitando-o de relacionar-se com o outro de maneira igualitária. Geralmente vê o outro como pessoa mais forte, capaz de cuidados e atenção plena, além de atributos de onisciência e onipotência. Este tipo de composição leva a impossibilidade da troca ou diferenças, que na maioria das vezes são vistas como algo negativo.

Certas áreas são especialmente ameaçadoras, desafiando as habilidades de negociação e respeito às individualidades por ambos. Entre estas áreas problemáticas encontra-se o sexo. Dificilmente os parceiros conseguem expressar o que sentem e querem, sem destruir, invadir, magoar ou obliterar os outros. Como o prazer sexual é alcançado na troca há um comprometimento em se conseguir este estado de união sexual.

Ferrenhas lutas pelo poder, geralmente inconscientes, podem ocorrer. Cada parceiro é dominado pela necessidade de controlar o outro e, inversamente, de evitar que seja submetido a seu domínio. Neste caso, vale destacar que a formação religiosa protestante mais fundamentalista, através de interpretação particular dos textos paulinos (I Cor.6 e Efes.5:22-23) coloca a mulher num posição de submissão compulsória ao homem.

Situação muitas vezes contestada pelas atuais releituras femininas do texto bíblico e, até mesmo, pela incorporação de novos valores advindos dos movimentos sociais de contestação ao papel tradicional feminino na sociedade pós-moderna, ocasionando grande drama da composição conjugal. A dificuldade de comunicação interpessoal também pode ser originada de atitudes de vergonha, de sentimentos de culpa, influenciados pela educação tradicional, comum nos casos de ortodoxia religiosa.

Fonte: NASCIMENTO, Virgilio Gomes. Norma e transgressão da sexualidade: uma pesquisa acerca dos transtornos sexuais femininos e conflitos entre atitudes e comportamento sexual num grupo de mulheres evangélicas do Grande Rio de Janeiro Rio de Janeiro: Mestrado em Sexologia da Universidade Gama filho, 2005. Dissertação de Mestrado (183 p.)

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